Teve lugar no passado dia 17 de Abril o início da 78ª época do nosso Grupo.
A corrida de 2ª Feira de Páscoa em Sousel é um espectáculo à parte de qualquer outro. Os habitantes da vila deslocam-se desde cedo para as imediações da praça, onde fazem o tradicional “almoço de campo”, clássico nesta data icónica. Desta forma, a corrida decorre sob um ambiente diferente do habitual, bastante mais animado e descontraído do que é comum.
Foi com esse espírito que nos dirigimos desde logo para a fardação, amavelmente cedida pela família Calça e Pina, na Herdade da Cegarrega. E é precisamente aqui que reside um dos pontos que considero mais positivos e de maior realce de todo o dia, pois além do convite por parte destes excelentes anfitriões que são a Tia Filipa e o Tio Augusto, para almoçar e fardar, tiveram também a amabilidade de convidar o Grupo das Caldas para o fazer.
Quero desde já agradecer, não só pela espectacular recepção e refeições (almoço e jantar), mas principalmente por levarem a cabo um convívio tão bom, entre dois grupos de iguais princípios. No seguimento desta última frase, gostaria também de dar uma palavra ao Grupo das Caldas, escrevo “Grupo” porque o são realmente, contrariamente a outros tantos “grupos”. Apesar do número reduzido de corridas, o Grupo das Caldas mantém uma postura invejável, até para alguns de topo do “escalafón”, louvável numa altura em que se torna tão apetecível por grupos com menos corridas, cair no erro de tornar a tauromaquia num negócio, muito fraquinho, no que à ética diz respeito. Além deste comportamento digno e notável, a educação e cortesia dos elementos para com todos os presentes, encheu-me também o olho. A todo o Grupo, na pessoa do grande cabo (e forcado) que é o Ticão, um enorme Olé!
Vamos à corrida!
Cartel composto pelos Cavaleiros Marco José, Paulo Jorge Santos e Parreirita Cigano. Toiros de Silva Herculano e os Forcados Amadores de Montemor e Caldas da Rainha.
No que aos forcados diz respeito…
Seis toiros “nhoc-nhoc”, com pouca transmissão e a chegar às pegas sem possibilidade de emoção. Pesos entre os 400 e 450kg, boas caras e permitir muito pouco.
Para a grande responsabilidade de abrir praça, juntando-a à ainda maior de pegar o primeiro toiro da época, o cabo escolheu o jovem forcado Vasco Ponce. Apesar da pouca experiência, o Vasco é um forcado com muito sentido para a pega, tem noções dos terrenos, é aficionado e gosta de aprender – ingredientes fundamentais para quem quer ser Forcado! Desta vez, foi para o toiro com a pega feita na cabeça, faltou-lhe alguma sensibilidade (natural da falta de experiência) para perceber que os toiros são todos diferentes e que as pegas não se replicam. Depois de um bonito brinde ao Tio Augusto, pôs o barrete cá de trás e andou para o toiro, elegante e com brio. Deu meia dúzia de passos e carregou duas vezes, sem o toiro fixo. Naturalmente não saiu e olhou para o lado (penso que por lhe terem mostrado o capote, indevidamente), neste momento o Vasco precipitou-se mais uma vez e voltou a carregar, saindo o toiro ao seu encontro. Aguentou, recuou e fechou-se cheio de ganas, até o grupo o acolher da melhor forma.
Vasco, como te disse na praça, a única situação em que se carrega um toiro assim que este olha para o lado é quando já estamos demasiado em cima (mesmo muito, já depois da zona das silvas) e pedimos um aviso. Um toiro de largo nunca se carrega quando está a olhar para o lado, demonstra que não dominamos por completo a situação e o nosso oponente nunca vai sair nas melhores condições. Mais uma vez, muitos parabéns por este dia! É um orgulho ver o meu afilhado, que levei ao primeiro treino, pegar o seu primeiro toiro pelo Grupo sénior, a abrir praça e abrir uma época!
Para o segundo toiro que nos calhou em sorte, o maior e mais complicado do nosso lote, saiu aquele por quem todos esperavam (todos mesmo, até tinha claque!!!) – António Calça e Pina. Perante um toiro ingrato, o António não fez a pega com que sonhou. Depois de brindar à sua madrinha, num bonito e emotivo momento, pôs o barrete encostado ao grupo e começou a tourear. Depois de um muito bonito cite, carregou o toiro, agredindo-o muito bem à voz, fazendo-o sair. Como disse, o toiro era complicado e saiu pouco franco, ensarilhou perto do forcado e meteu-lhe o píton esquerdo, desfeiteando-o logo na reunião. Grupo alinhado para a segunda tentativa, forcado igualmente toureiro e com enorme vontade. Nesta segunda tentativa o toiro saiu um pouco melhor, mas no momento de recuar o António calou-se e adiantou-se um bocadinho, o suficiente para o toiro lhe saltar para cima. Ainda assim, a vontade sobrepôs-se a tudo e apesar de uma pega feia, é de salientar o esforço do nosso Calça e a determinação para lá ficar. Tonho, foi uma bela luta, mas ganhaste!
Quinto toiro da ordem, terceiro do nosso lote. Para pegar o gémeo João Vacas de Carvalho. Dos três forcados que pegaram, o João foi o que menos gostei de ver em frente ao toiro, mas o mais eficiente na reunião e no geral da pega. Os tempos da pega foram cumpridos na perfeição, andou quando tinha que andar, falou quando tinha que falar e carregou no momento certo. Com um citar mais bonito e um carregar mais elegante, teria sido uma pega exímia. Muitos parabéns João pela tua primeira pega no Grupo sénior, agora é a doer!
Ps.: Só tens que pedir ao Tio Paulinho um espelho ao fundo do corredor, para passares umas horinhas lá à frente!
Pelo Grupo das Caldas pegou André Martins à terceira tentativa, Sebastião D’ Orey (Batana) à primeira tentativa e José Maria Abreu, na pega da tarde, ao primeiro intento. Muitos parabéns pela prestação e obrigado pelo convívio.
Vemo-nos dia 25 de Abril em Alter do Chão.
Pelo Grupo de Montemor, venha vinho!
Francisco Maria Borges
Fotografias: Maria Mil-Homens
Veja o vídeo das pegas, seguindo o link:
https://www.youtube.com/watch?v=WdZLwe1HpiE