Este texto vai dedicado ao Zuzarte ao Cortes, aos meus contemporâneos e à nova forcadagem de Montemor.
Não ia a uma Corrida à anos, a última tinha sido em São Manços, em 2008, em homenagem ao Senhor Engenheiro António Murteira, grande Forcado de Santarém e meu saudoso Sogro.
Tenho que confessar que a minha “maneira de ser” me tem privado do desfrute assíduo da festa, mas embora considere a minha passagem pelos touros como uma actividade desportiva, com laivos específicos de iniciação sociológica, a verdade é que me soube muito bem certificar que efectivamente há uma diferença nas relações humanas entre aqueles que são, ou foram, moços de forcados, pois a “alegria”, a “afabilidade”, a ”confiança” transmitidos nos olhares e apertos de mão não tem igual, nos outros extractos sociais ou profissionais que tenho frequentado.
Essa “energia” provavelmente, se não cairmos em fanatismos desnecessários, pode marcar a diferença entre ser ou não ser FORCADO, e logo uma via, não de promoção, mas sim de valorização da vivência e virtude humana.
Esta noite de 11 de Agosto, em ambiente Summer Bull Fight na Monumental de Albufeira, praticamente lotada, foi abrilhantada pela superior direcção do nosso Agostinho Borges, cuja descrição só foi interrompida quando interveio, com discernimento, para mandar retirar um capote abandonado, num momento de fuga precipitada, e que persistiria em ser deixado nos médios à guarda do touro e a servir de pivot à lide da Sónia Matias.
O curro de seis bonitos negros, da Herdade das Sesmarias Velhas do Guadiana de ferro Fernando Santos, apresentava animais com 3 e 4 anos, com peso e terapio, bem apresentados mas currientos, os quais, embora voluntariosos mas com crenças específicas, acabaram por cumprir a função para os cavaleiros e para os forcados.
Os cavaleiros consagrados que já conhecia, Rui Salvador, Luís Rouxinol, Sónia Matias e Ana Batista estiveram esforçados e iguais a si próprios.
Quanto aos outros novatos, só fui gratamente surpreendido pelas características e qualidade do Manuel Telles Bastos que, destacando-se também do Tomás Pinto, acabou por, merecidamente, através de uma lide redonda e aveludada, receber o Troféu da Melhor Lide, deste confronto de gerações, sexos e estilos tauromáquicos.
A primeira pega da noite, a do Marquês, com o nº17 e 495 quilos ficou a cargo do João Mouro Tavares (um dos mais rodados em 2009, segundo me disseram).
Depois da lide segura e templada de Rui Salvador em que o toiro se empregou permanentemente sem nunca humilhar em demasia, dando brilho à lide do cavaleiro, arrancou uma brilhante pega, brindada a José Cid, em que o toiro trabalhado segura e artisticamente pelo “Peco”, se arrancou prontamente de largo com alegria, fechando-se este à córnea, aguentando um derrote já com a ajuda do “JP” secundada pelo restante grupo.
O terceiro, que calhou a Sónia Matias, que comemora o 10º aniversário de alternativa, tinha o nome de Cravo (nº3) e efectivamente “cravou-se” entre os médios e o centro da arena contemplando as iniciativas desta primogénita taurina portuguesa, dificultando-lhe a atrevida actuação apesar da enorme entrega.
Coube ao João Romão Tavares, na sua 2ª época, mostrar todo o seu potencial de eficácia e muito mérito, dando distância e vantagem ao toiro, de 505 quilos, aguentando uma reunião dificultada pelo ensarilhar e viagem à córnea com cara levantada a entrar pelo coeso grupo, com vistosidade.
O quinto pertenceu a Manuel Bastos, que com uma equitação à Telles e os seus Xirilo e Rosa, deram a volta ao Cristalino, de uma forma que me divertiram com uma lide criteriosa entre os iniciais ferros à tira até à clássica sorte frontal com ferros ao estribo e um palmo com adornos de rara beleza e sobriedade equestre.
João Caldeira, um enorme Senhor em Praça, com um cite, LINDO, dando toda a vantagem ao toiro, apanágio da escola de forcadagem montemorense, que pela correcção técnica clássica do temple tornou de aparência fácil a difícil tarefa de agarrar este bruto com 453 quilos.
Rabejou este nº 32 o “Peco”, que com personalizado estilo e plástica arrancou ovação das bancadas e em particular do Sector 2, ouvindo merecido Olééé.
O “Caldeirinha”, indiscutivelmente recebeu o garboso Troféu da Melhor Pega, da autoria de Orlanda Gamboa Santos.
Gostei de observar o estilo do Cabo José Maria no comando da rapaziada, pois deu para sentir a concentração, cumplicidade e empatia permanente com os fardados, da qual resulta uma competência de comando crescente, de corrida para corrida, seja no Campo Pequeno seja em Albufeira, com os de Murteira Grave ou os de Fernando Santos.
Os forcados de Lisboa criaram complicações aos toiros das Sesmarias, pois numa noite de aparente pouca calma, garra e vontade, gastaram mais tentativas do que as necessárias para o que estava em causa.
Embora a globalização seja um vector limitativo das expressões culturais, ao qual pelos vistos também a festa brava não consegue fugir, não consegui deixar de achar estranho que o padrão da ramagem das jaquetas e o sair pelo meio da arena no final de corrida, tenha deixado de constituir uma “imagem de marca exclusiva” do Grupo de Montemor.
Resta-me a alegria de ter confirmado que, pela maneira serena de pisar a arena e o sangue frio e arte de pegar os toiros, efectivamente há diferenças.
Venha vinho !...
Paulo Duque Fonseca
(o 211)
Videos das pegas:
1ª - João Pedro Tavares:
http://www.youtube.com/user/GFAMontemor#p/u/33/OXUt9aXuBPQ
2ª - João Romão Tavares:
http://www.youtube.com/user/GFAMontemor#p/u/32/KXj404lBuMY
3ª - João Caldeira:
http://www.youtube.com/user/GFAMontemor#p/u/31/QrjWuiQX3d4