As corridas em terras Montemorenses são sempre boas e muito aguardadas e este ano não foi excepção. Para além do belíssimo cartel (João Salgueiro, Victor Ribeiro e João Telles Filho, com toiros da ganadaria da terra, Herdade de Pégoras e o nosso Grupo de Montemor a cargo das pegas) havia ainda a despedida do Cabo Rodrigo Corrêa de Sá como mote para uma festa de novos e antigos, que tinha por essa razão um certo cheirinho a comoção.
O primeiro toiro da tarde foi o escolhido para a passagem de testemunho. Quando o Guiga saltou para a arena já se viam algumas lágrimas nas bancadas, lágrimas de saudade diria o poeta, mas foi durante os brindes comovidos que o próprio fez ao Grupo e à sua família que a plateia desatou num pranto. O Rodrigo enfiou o barrete e partiu para o toiro, com calma e mestria, mostrou a todos como se deve estar bem em frente a um toiro. Fez tudo certo, andou para o toiro, carregou-o, aguentou e depois de uma reunião perfeita e dum derrote do toiro o Rodrigo saiu por momentos da cara do oponente, estando a pega já quase consumada. Num gesto de grande dignidade resolveu pegar novamente por não considerar a pega 100% concluída. Na 2ª tentativa voltou a fazer tudo bem e após outra reunião perfeita o toiro afocinhou, arrastando o Guiga pelo chão e dando-lhe uma violenta pancada na cabeça e na cara, deixando-o assim inanimado. Todos se assustaram na praça mas graças a Deus nada de grave aconteceu para além do susto. O Guiga não pegou o toiro da sua despedida por um azar destas andanças, e por não precisar de provar nada a ninguém como forcado, enquanto se dirigia em maca para a enfermaria, já o futuro Cabo José Maria Cortes agarrava o barrete e se dirigia ele próprio para a cara do toiro para dobrar o seu antecessor e amigo. Na 1ª tentativa com uma boa reunião à barbela, o toiro voltou a afocinhar e por arrastar o forcado pelo chão de arrojo, fez com que a pega se desfizesse. Na 2ª tentativa com ajudas mais carregadas o Zé Maria teve que ir buscar o toiro aos seus terrenos recebendo dessa forma mais duramente o toiro mas resolvendo a sorte, graças à sua boa forma. De ressalvar, um agradecimento especial ao cavaleiro João Salgueiro pelo bonito gesto de não dar a volta à arena pelo azar sucedido ao Cabo Guiga, em sinal de enorme respeito por uma festa que é essencialmente dos Amadores de Montemor.
Nesta altura José Maria Cortes, tomou as rédeas de comando do grupo, ainda o Guiga se encontrava na enfermaria, e enviou para a cara do segundo da tarde o valoroso forcado João Mantas. O João esteve como de costume, bem à frente do toiro. Com muita experiência, aguentou no centro da arena o toiro que se arrancou de largo e depois duma boa reunião teve braços para o derrote e para a viagem que se lhe seguiu até às ajudas.
Quando o cavaleiro João Telles Filho saiu à arena vinha pela trincheira fora em direcção aos companheiros o Cabo Guiga de saída da enfermaria e já recomposto. Como não podia deixar de ser ouviu-se em praça nova ovação comovida e enquanto andava, também ele comovido, o Guiga lá ia agradecendo. Pela insistência do público o "Cabo Velho" teve que saltar para o meio da arena, já com o Cavaleiro pronto para a saída do toiro da Herdade de Pégoras e foi assim depois de uma forte ovação que se deu a entrega da jaqueta. O Rodrigo desta forma cedeu os comandos do Grupo definitiva e oficialmente ao Zé Maria Cortes que se afastou para a despedida final deste forcado e homem de mão cheia que conduziu os desígnios do Grupo de Forcados Amadores de Montemor por uma década.
Já como Cabo do Grupo, o Zé Maria decidiu colocar na cara do animal o famoso João Cabral, um forcado que tem vindo a fazer uma das suas melhores épocas este ano. O João quis aproveitar e carregou bem o toiro mas recuou pouco, tendo assim uma reunião dura e alta fazendo vibrar o público pelo barulho causado no impacto. Mostrando muita vontade de ficar na cara do toiro o João enquanto aguentava os derrotes e a viagem, foi se compondo na cara do toiro, fechando uma rija pega com a boa primeira ajuda do Hugo Melo.
O Quarto toiro da corrida foi pegado por mais um forcado "da casa", o experiente Pedro Freixo que depois de um brinde emotivo ao avô e ganadeiro, o Dr. Barata Freixo, colocou o barrete verde cheio de vontade de triunfar. O Pedro fez uma pega tecnicamente perfeita do princípio ao fim a um toiro que pedia, também ele, uma reunião perfeita. Pode-se dizer que a pega foi feita na reunião. O Grupo ajudou bem, como de resto em todos os outros toiros e assim estavam pegados 4 dos 6 toiros da Corrida.
Rodrigo Pietra Torres foi o forcado escolhido pelo Zé Maria para a sorte do quinto da tarde e foi uma aposta ganha à partida. Fez, quanto a mim, a pega mais vistosa da tarde a um toiro muito bravo e que mostrou isso mesmo durante toda a lide do Cavaleiro Victor Ribeiro. Pôde ver-se em praça uma pega que mostrou o imenso poder do forcado na cara do toiro. O Rodrigo que já não pegava há algum tempo provou que quem sabe, nunca esquece. O toiro saiu de largo e o forcado aguentou o toiro com valentia, reuniu bem e aguentou o forte derrote alto, consumando em seguida a pega com uma bela ajuda do João Pedro (JP). A destacar ainda, a espectacular rabejação com que o João José Comenda brindou o público e fechou a pega, dando uma lição de bem rabejar nesta tarde de toiros.
O último toiro da corrida foi dado a outro dos grandes forcados do Grupo de Montemor. O forcado Manuel Mata foi o escolhido para fechar esta tarde de triunfos. Mais uma pega tecnicamente perfeita com o forcado a aguentar o toiro e a fechar-se com decisão à córnea. Nesta pega o Manuel teve uma grande primeira ajuda do Diogo Campilho, forcado que também vestia pela última vez a jaqueta das ramagens e pela ajuda que deu e pelos sucessos que ao longo dos anos proporcionou ao Grupo também ele foi chamado para a merecida volta de agradecimento.
Depois da corrida e da "desfardação", teve lugar uma deliciosa festa de despedida do Cabo antigo, o Rodrigo Corrêa de Sá e apresentação do novo Cabo José Maria Cortes, festa em que estiveram presentes diversos forcados de vários outros grupos como sinal de homenagem e apoio mas também com a presença de alguns cabos como foi o caso dos cabos dos Grupos de Évora, Tertúlia Tauromáquica Terceirense, São Manços, Coruche, Alcochete, Académicos de Elvas, Aposento da Chamusca, etc... reunindo-se assim mais de 350 pessoas. Foi um jantar em que se pôde ouvir os discursos emocionados do Zé Nan Potier, Paulo Vacas de Carvalho, António José Zuzarte e Nuno Salter Cid, entre outros e ainda o bonito discurso de despedida do Guiga e o do Cabo José Maria Cortes para fechar a parte mais séria do jantar. Após a fase dos discursos seguiu-se uma festa de arromba com musica e bailarico pela noite dentro, onde se juntaram mais algumas amigas e amigos desta grande Família que é a do Grupo de Montemor.
É com muito gosto que damos as boas vindas e desejamos os maiores sucessos ao Zé Maria, o novo Cabo do Grupo e já com saudade nos despedimos do Guiga.
Zé Maria, como amigo te desejo toda a sorte do mundo e que pondo os olhos no Guiga e relembrando sempre os seus ensinamentos e exemplo, consigas levar a tão bom ou melhor porto os destinos desta nossa Família. Que a Nossa Senhora, Madrinha do Grupo, te guie sempre ao longo da vida, nas decisões que tomares, nas vitórias conseguidas, mas especialmente nas adversidades e que te pegue ao colo quando julgares não conseguir ultrapassar uma barreira.
Ao Guiga pouco lhe posso dizer que outros, mais experientes e mais sábios, não lhe tenham dito já, apenas lhe agradeço todo o exemplo dado, dentro e fora das arenas como forcado, mas essencialmente como Homem. É que se há coisa que ele sempre foi para mim, é uma prova do que é ser Homem e Homem com H grande, como conheço poucos. Foste sem dúvida escolhido por inspiração Divina, fez-se fumo branco dizem e é por isso que unanimemente muitos te apelidam, em género de cognome, de "Giga", pela tua excelente condução de homens ao longo destes anos em que dirigiste os destinos deste Grupo que me é tão querido. Por tudo isto o meu OBRIGADO sincero e venha vinho!
Tomás Pimenta da Gama
Setembro de 2007
Fotografias: Francisco Romeiras e Francisco Romeiras (Filho)



























































